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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Calçada Portuguesa: Tradição ou Passeios Decadentes?

Há muitos anos que temos no nosso país, a tradiccional “calçada portuguesa”. Sempre ouvi dizer, que é linda e que não há chão mais bonito no mundo que o nosso. Que é feito à mão, pelos calceteiros, e tem um valor sentimental muito grande. Se calhar estou a exagerar, não é valor sentimental, mas que existe há muito tempo, e que não é mudada por tradição, lá isso não há dúvida.

Vamos então fazer um exercício: observar os nossos passeios. Até podia ser que fossem lindos, quando acabaram de ser colocados. Mas observemos: quantos buracos, quanto chão irregular…quê? Nunca escorregaram? E não estou a falar dos saltos altos que é impossível usar em tal chão tão irregular. E irregular porquê? Porque para além de os passeios não serem reparados há muitos anos em muitos locais, a força da natureza é tal, que as raízes das árvores, empurram para cima as pedras da calçada, sem falar nos carros pesadíssimos que estaccionam em cima dos passeios. Todos os dias, para mim, é uma verdadeira jincana não magoar a base dos pés, sejam quais forem os sapatos que use, altos ou baixos. A única excepção são os ténis, mas mesmo esses, em chão tão irregular, não sei como não provoca mais entorses. Solução: caminhar pela estrada, uffa que alívio…

Nos outros países, o chão é feito de um material cinzento escuro, liso. Mas não é preciso ir muito longe. No norte de Portugal, por exemplo Porto, Braga, Viana do Castelo, etc, já usam esse tipo de chão, em muitos sítios da cidade. Se calhar perceberam há algum tempo, o quão obsoleto é usar pedras de calçada, e quão pouco prático é. Não percebo qual é a ideia, até nem acho assim tão bonito esse tipo de pavimento. Se era porque antigamente havia muitos calceteiros, hoje em dia não vejo nenhum, a não ser por vezes, calceteiros da câmara, quando há algum buraco num local de acidente ou, como vi há pouco tempo, no rebaixamento de passeio ao pé de semáforos, para os deficientes. Tirando isso, nunca vejo calceteiros. Se querem manter este tipo de pavimento, e já que poucos o querem fazer como profissão, porque não deixar esse trabalho para os presos para que ocupem o seu tempo com actividades úteis?

Se fosse eu que mandasse, mudava o chão em todo o lado, e mantinha o “chão tão bonito calcetado” junto aos monumentos portugueses, como uma forma de manter a tradição. Fora desse locais, deixem-se de ser retrógradas e pouco práticos e copiem os bons exemplos…
Se todos os passeios estivessem como o daqui da foto...seria bem diferente!

21 Comentários:

Às 19 de janeiro de 2007 às 12:29 , Blogger Miguel F. Carvalho disse...

também concordo em mantê-los apenas junto de monumentos ou locais históricos ou de relevância histórica... em relação aos trabalho dos presos, se isso acontecesse, logo viriam as associações de direitos humanos dizer que era trabalho esclavagista... os chineses levam os presos para trabalhar em Angola, mas esses acho que são mesmo escravos... :)

 
Às 19 de janeiro de 2007 às 13:35 , Blogger Heidi disse...

Se calhar poder-se-ia fazer muita coisa neste país, se usassem a ideia de os presos fazerem trabalho comunitário. Por um lado era possível a reabilitação dos presos, por outro, resolviam-se problemas como: o lixo das ruas, praias, os jardins maltratados, a matas com excesso de entulho (que contribuem para a alastração de fogos), etc...

Isto das calçadas é uma coisa que me irrita diariamente, mas não sei como fazer para mudar as coisas...ainda pensei escrever no site do presidente da república, mas há coisas bem mais importantes que este tema...
Não sabia que os chineses levavam presos para trabalhar em áfrica :-|
sabia que estavam em grande expansão por lá...os portugueses abandonaram aquele país, agora são as grandes potências a aproveitar a riqueza...e nós mais uma vez a sermos ultrapassados...

 
Às 19 de janeiro de 2007 às 18:08 , Blogger Miguel F. Carvalho disse...

foram os presos que fizeram o Estádio Nacional e a parte mais antiga da A5...

 
Às 19 de janeiro de 2007 às 21:24 , Blogger Pedro Almeida disse...

Por favor...os presos têm os seus direitos, o único que perderam e temporariamente, não esquecer, foi a da liberdade.
Lá por um cidadão estar preso a cumprir o seu castigo perante a sociedade não tem que ser pau para toda a obra, não deixa de ser menos cidadão por isso.
Confundem-se muito os conceitos de justiça e vingança, é pena.

 
Às 20 de janeiro de 2007 às 19:53 , Blogger Heidi disse...

Pedro, é uma questão de integração na sociedade. Não estou a falar aqui em escravizar, claro que não.Mas ao darem actividades aos presos, há tanta coisa para fazer, ajudava-se os mesmos, a sentirem-se úteis, e a não ficarem ainda mais marginais dentro da cadeira, e seriam úteis à sociedade.
Que eu saiba, tirando a escravatura, o trabalho nunca fez mal a ninguém.
Numa democracia, há os direitos das pessoas, mas também há as obrigações...O mundo estaria mt mal se houvessem só direitos, então seria um mundo impossível,porque não haveria ninguém para garantir esses mesmos direitos...

 
Às 20 de janeiro de 2007 às 19:58 , Blogger Heidi disse...

Miguel, por acaso não sabia que os presos tinham feito essas obras, então é uma ideia que já está a ser usada, nalgumas situações, pelo menos...
Já tinha era ouvido falar, de pessoas que estão presas mas com regime aberto, e que trabalham exactamente em jardinagem e no varrimento das ruas...

 
Às 20 de janeiro de 2007 às 20:23 , Blogger Pedro Almeida disse...

Essas obras são do antigo regime, logo não me parece que os presos tivessem grande voto na matéria, tinham que fazer o que era obrigados a fazer.
Se um preso aceitar fazer trabalhos comunitários tudo bem, mas por mim tem todo o direito de se recusar a fazê-lo.

 
Às 21 de janeiro de 2007 às 12:28 , Blogger Sun disse...

Onde moro há cerca de 1 ano colocaram as passadeiras em calçada, é fantástico... um dia fiquei presa com o salto no magnífico pavimento. Tive sorte porque o condutor era paciente e deu-me tempo para resolver aquela situação de andar preso…

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 10:40 , Blogger Heidi disse...

Forçar alguém a alguma coisa, neste caso específico, a trabalhar, claro que não. Isso não é democracia.
Mas creio que haveria uma grande adesão a este tipo de iniciativa, por parte dos presos...

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 10:41 , Blogger Heidi disse...

Sun, apenas parti uma vez o salto. Felizmente estava a 2 metros de uma sapataria :)
Acho que foi a partir daí que me deixei de "frescuras" e comecei a ser mais raccional e a usar sapatos um pouco mais rasos...

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 14:43 , Blogger Crítico do caraças disse...

Há tanta gente desempregada... porque não abrir cursos para calceteiros? Se calhar conseguiam que algumas das pessoas que não têm emprego há muito tempo pudessem ter uma oportunidade. Mas há calçada em mau estado devido aos constantes tapa destapa de buracos abertos pela tvcabo, pt, companhia das águas, gás, edp, etc. Se houvesse ficalização a sério nas obras depois destas terminadas e os empreiteiros fosse obrigados a repor a calçada, o número de buracos e irregularidade na mesma seria menor. Mas como neste pais do deixa a andar ninguém é responsabilizado o peão é que sofre! E não é pouco.

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 14:47 , Blogger Heidi disse...

Verdade, mais causas de o pavimento se encontrar assim...

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 17:24 , Blogger Miguel F. Carvalho disse...

é lógico que os presos não deverão ser obrigados à força a nada... mas também estar na cadeia a olhar para o ar não me parece uma grande forma de integração futura... não me choca nada que o trabalho comunitário contribua para a redução da pena em crimes não violentos... é preciso não esquecer que os presos são um custo para o Estado...

 
Às 22 de janeiro de 2007 às 17:46 , Anonymous Anónimo disse...

Embora a calçada portuguesa esteja a desaparecer nalguns sítios, ainda domina efectivamente o panorama das calçadas nacionais...
Se mudassemos de calçada, lá teriam os calceteiros das Camaras Municipais de ser reconvertidos, os empresários que detêm fábricas de pedra de calcada ficavam sem o seu ganha pão e os seus empregados lá teriam de ir viver do fundo de desemprego.
Não estou a defender a calçada portuguesa, apenas a pensar nas implicações sociais que poderiam advir...
Ainda tiro o lugar ao Teixeira dos Bancos...

 
Às 23 de janeiro de 2007 às 11:41 , Blogger Heidi disse...

Miguel, subscrevo tudo o que disseste :-) é isso mesmo!

 
Às 23 de janeiro de 2007 às 11:47 , Blogger Heidi disse...

Jon,
Não me parece que hajam ainda muitos calceteiros...A calçada não é reparada há anos. Qual iam para o desemprego, se pusessem outro material, criavam-se outros postos de trabalho, ainda que desaparecessem outros.
Se para não acabar com postos de trabalho, se continuassem com todos os negocios, mesmo que não fossem lucrativos ou que fossem lesivos, estariamos muito mal...

 
Às 26 de janeiro de 2007 às 10:18 , Blogger Unknown disse...

Minha Anitas,

Concordo que a calcada portuguesa é chata comós cornos, lembro-me disso várias vezes aqui quando uso saltos. Toda a gente me pergunta se eu nao me canso, e eu respondo que eles nao sabem o que é usar saltos em Lisboa. Ao pé disso, nada é dificil ;)

Confesso que me sentiria triste se a calcada desaparecesse, acho-a bonita e tradicional. Se vamos alterar tudo o que nosso país tem, daqui a nada, nada nos diferencia da Espanha, da Franca ou da Itália. Assim como assim, já nao encontro muitas diferencas... :/

Acerca dos presos, amor, nao é assim tao fácil, eu trabalhei 7 anos de perto com as PTFCs (prestacoes de trabalho a favor da comunidade) e garanto-te que é preciso muita logística para conseguir levar uma a cabo. Além de que as PTFCs sao para crimes com pena inferior a 18 meses e as pessoas obedecem-nas concomitantemente as suas vidas: trabalho, escola; as PTFCs sao mais um servico cívico e nao estás a ver pessoas como tu ou eu saberem fazer obras ou assim, pois nao? Normalmente as PTFCs nao sao para servirem de castigo, mas formativas: um condutor bebado pode acabar no Alcoitao para ter nocao dos riscos dos seu comportamento, etc.

Ele também há que olhar as coisas por outro prisma. Imagina que eu matei, esfolei, roubei. Será o remédio para mim criminosa, a prisao? Achas meso que se eu for para a prisao que vou aprender "epá, a próxima vez nao cometo crimes, senao mandam-me para a prisao outra vez". Nao, o que vou pensar é "opá, tenho queser esperta a cometer o crime para nao ser apanhada outra vez". O conceito de castigo prisional nao funciona, ele há que encontrar outras solucoes. Como tal, porem-se detidos a fazer trabalho desse tipo nao faz sentido, nao vamos ensinar o que é comportamento decente se nao respeitarmos a dignidade destas pessoas. Seria cínico da parte da sociedade que quer que um criminoso se comporte com dignidade e se enquadre socialmente.

 
Às 30 de janeiro de 2007 às 15:52 , Blogger Heidi disse...

Sarinha,
Parafraseando-te:"Acerca dos presos, amor, nao é assim tao fácil, eu trabalhei 7 anos de perto com as PTFCs (prestacoes de trabalho a favor da comunidade) e garanto-te que é preciso muita logística para conseguir levar uma a cabo. Além de que as PTFCs sao para crimes com pena inferior a 18 meses e as pessoas obedecem-nas concomitantemente as suas vidas: trabalho, escola; as PTFCs sao mais um servico cívico e nao estás a ver pessoas como tu ou eu saberem fazer obras ou assim, pois nao? Normalmente as PTFCs nao sao para servirem de castigo, mas formativas:"
É obvio que é preciso muita logística mas tem que se começar por qualquer lado verdade? Evidente que não era para servir de castigo, mas para sua própria integração na sociedade e formação a nível profissional. Ele há-de haver muitos presos que se sentem "vazios" e inúteis...presos numa cela, e sem a sua liberdade...porque não os deixar sonhar, e preencherem as suas vidas? se calhar não estou a usar as melhores palavras para me exprimir...mas tenho pena dessas pessoas quando saiem das cadeias...se já as que estão cá fora, ninguém ajuda ninguém, imagino as pessoas com cadastro...

 
Às 29 de junho de 2007 às 22:48 , Anonymous Anónimo disse...

Heidi, gostei de ler os teus comentarios sobre a nossa CALÇADA. Convido-te a ler um artigo que escrevi em - coisa boas da vida: http://www.coisasboasdavida-deeper.blogspot.com/ - denominado por PASSEIOS DE NINGUEM. Ainda bem que existe mais gente critica da nossa calçada. O Blog não é meu mas a DEEPER fez o favor de publicar.

 
Às 29 de junho de 2007 às 23:44 , Blogger Heidi disse...

Obrigada anónimo pelo seu comment, gostei muito da sua opinião em "PASSEIOS DE NINGUÉM"...

 
Às 10 de março de 2008 às 09:14 , Blogger Rafeiro Perfumado disse...

Nem mais, Heidi. Se quiserem manter a calçada, concordo, mas manter em condições. Agora as armadilhas para ursos que existem de dois em dois metros, só mesmo se os responsáveis tiverem participações em ortopedistas, sapateiros e sapatarias!

Beijocas!

 

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